sexta-feira, 23 de outubro de 2020

FUTEBOL, MAIS QUE ESTATÍSTICA, PURA EMOÇÃO

 


Por Walmir Rosário

Nesta quinta-feira (22), recebi um monte de manifestações de amigos por conta da crônica “Flamenguistas querem esquecer o jogo do senta”, um texto despretensioso com o objetivo de lembrar o futebol arte. Amigos parabenizaram, outros nem tanto, fizeram beicinho, mandaram de volta escudos do Flamengo, José Senna reclamou que futebol não era museu, o mestre Isaac Albagli respondeu com crônica no Jornal Bahia Online.

Tudo no campo das ideias, o que considero pouco para o futebol, a alegria do povo, o esporte jogado com os pés, inventado pelos ingleses e que contagiou o mundo. Homens e mulheres praticam atualmente o esporte bretão – como diziam nossos cronistas esportivos – com a mesma habilidade, enchendo estádios, criando uma rivalidade entre torcedores. Não é mais a pátria de chuteiras, mas ainda é o número um dos esportes no mundo.

Sou um botafoguense de quatro costados, é fato, e é justamente por isso que consigo ver o futebol por outro prisma. Só quem é botafoguense sabe ver nesse esporte uma paixão. Há quem diga que somos abilolados, apenas dou risadas, pois determinadas coisas só acontecem com o Botafogo. É roubado em campo, mas não apela para a violência, seja qual a qualidade dos jogadores. Não falei de placar, goleadas, mas de vexame.

Me lembro de do botafoguense João Saldanha na rádio Globo, nos anos 1970, que prestou uma homenagem ao Fluminense com a narração do gol do Botafogo, justamente na partida em que o Fogão ganhou por um a zero, tinha o maior número de pontos e se consagrou apenas vice-campeão carioca. Armação dos cartolas da triste Federação Carioca, que modificou as regras em pleno campeonato para beneficiar o time de Horta.

O Botafogo é diferente. Mesmo com um time modesto, o torcedor vai a campo e torce até mesmo nos treinos, talvez pela tradição. O Botafogo nunca foi simplesmente um time de futebol e seus atletas jogadores, ao contrário, sempre foi uma constelação, formada por estrelas de primeira grandeza, de fazer inveja aos rivais. Lembra do goleiro Manga, aquele que cobrava o bicho antecipado nas partidas contra o Flamengo. Isso é ser botafoguense.

Mas vamos falar de qualidade. A Seleção Brasileira somente se firmou no contexto internacional, ganhado copas do mundo, quando a maioria do nosso selecionado era formada por jogadores da estrela solitária. Nada que desmereça os demais, apenas cedeu os jogadores certos – junto com o Santos – para fazer o selecionado canarinho brilhar e ganhar nos campos da Europa.

Como não lembrar da grandeza do lateral esquerdo Nílton Santos, a enciclopédia; o meio-campista Didi, inventor da folha seca; o ponteiro-esquerdo Zagalo, o formiguinha que criava em todo o campo...Mas ainda é pouco. Amarildo, o possesso, que substituiu – à altura – Pelé na copa de 62 no Chile. Rildo, o furacão Jairzinho, o canhotinha Gérson, o centroavante Roberto e Paulo Cezar Caju fizeram história nas copas.

Gosto de lembrar do Botafogo de todas as épocas e nem vou consultar os anais dos campeonatos para falar do bom futebol brasileiro. Nós – da torcida que cabe numa kombi – como dizem, sempre fomos maioria até mesmo no Alto Beco do Fuxico, para o desespero do saudoso amigo e irmão Renan Sílvio Santos, José Senna (ambos flamenguistas) e et caterva.

E logo no Alto Beco do Fuxico, local onde os confrades debatem futebol entre uma cachaça de qualidade e cerveja bem gelada, desde os tempos que éramos servidos por Ithiel, torcedor do Fluminense. Nesse ponto concordo com Isaac Albagli, não há lugar melhor do mundo para um debate futebolístico do que em mesa de bar. Parece que os dribles dados nos adversários são mais bonitos, os gols mais espetaculares.

Confesso que mesmo perdendo o jogo não abandonamos a piada. Não há nenhum demérito admitir que atualmente o Flamengo é a maior equipe do Brasil em número e qualidade de craques. Pelo contrário, eu, que gosto do futebol bem jogado, me sinto feliz quando o Botafogo enfrenta o todo-poderoso Flamengo e empata ou perde o jogo com o decisivo gol do décimo terceiro jogador, o VAR (o décimo segundo é o juiz central).

Gosto das prateleiras empoeiradas de onde retiro as glórias do Botafogo sobre o Flamengo, apenas para mostrar nossa altivez – na terra e no mar –, aplicando as merecidas surras. Quando perdemos, nos recolhemos, mas em nenhum momento sumimos do convívio das torcidas coirmãs, acredito por possuirmos o couro grosso e a experiência de apanhar e bater.

Minha estrela é mais que solitária, é altaneira como a constelação que sempre foi o Botafogo, daí a diferença entre o botafoguense e o flamenguista. Não ficamos emburrados, chorando o leite derramado. Apenas sabemos diferenciar a emoção dos números frios da estatística da paixão. Nada melhor do que ganhar bem, no campo. Perder é apenas uma consequência que faz parte do futebol.

Gostaria de dedicar essas mal traçadas linhas a um flamenguista, o saudoso José Adervan, que hoje estaria feliz com o seu Flamengo, mas nem por isso chorava quando perdia para o Botafogo, apenas pagava o churrasco da aposta feita ao não menos saudoso botafoguense Robson Nascimento. E continuaremos o papo apreciando uma cervejinha e uma branquinha, com ou sem pandemia, afinal estaremos protegidos pelo chapéu e os artigos etílicos.

*Radialista, Jornalista, advogado e botafoguense


WALMIR E O MENGÃO

 



Isaac Albagli*

O amigo jornalista Walmir Rosário é uma pessoa reconhecidamente inteligente. Na impossibilidade de torcer pelo seu finado Botafogo, e se roendo de inveja (no bom sentido, amigo), do Mengão, foi procurar fatos da década de 1940 e até de 1924, ano de nascimento de meu saudoso pai, que se vivo estivesse completaria 97 anos!

Procurou nas prateleiras empoeiradas alguns (poucos) deslizes do Flamengo frente ao Botafogo, que reconheço, foi outrora um timaço, com Garrincha, Nilton Santos, Zagalo e outros craques. Mas esse tempo já passou. Se olharmos a estatística entre os dois clubes, o Mengão dá uma surra tão grande no Botafogo, que envergonharia seus torcedores.

No confronto direto o Flamengo venceu 136. O Botafogo,112, portanto, freguês. No Carioca, o Mengão tem 36 campeonatos, enquanto a estrela solitária tem 21. Campeonatos brasileiros, Libertadores, e até Campeonato Mundial o Flamengo está muito à frente do foguinho. E o número de torcedores? Deixa pra lá. É covardia.

A amnésia de conveniência faz os botafoguenses esquecerem dos 8x1 de 1926 e o 6x0 de 1981, aplicados pelo Mengão em cima do rival. Vamos ficar por aí, para Walmir não vir com chororô e ficar "sentado" emburrado.

Virou moda. Torcedores de outros times, na falta de emoção para aplaudirem os seus, buscam essa emoção torcendo contra o Flamengo. A psicologia explica. Se o cara é proibido pelo médico de comer gorduras e frituras, ele desconta na bebida. Ou vice-versa.

Walmir, como eu, gosta de uma cervejinha e uma branquinha. Vamos marcar um encontro num boteco tão logo essa pandemia vá embora. Cada um com seu chapéu, e cada um com as estatísticas de seus clubes debaixo do braço.

*Engenheiro agrônomo, ilheense da gema, apaixonado pela família e pelo Flamengo


sexta-feira, 1 de março de 2019

MAIS UM FILIADO NO CLUBE DOS ROLAS CANSADAS


O Clube reunido no Rei do Guaiamum
Na reunião ordinária desta quinta-feira (28) o canavieirense Raymundo José do Santos, ou Raymundo Canavieiras, como é conhecido nas hostes ceplaqueanas, foi o convidado especial do dia. Como faz todos os anos, Raymundo não dispensa os grandes feriados (Carnaval, São Boaventura, dentre outros) e, tradicionalmente, vem visitar a terrinha e seus amigos.

Aos 78 anos e em plena forma, assinou ficha de filiação ao Clube dos Rolas Cansadas e exaltou o cunho lítero etílico e gastronômico da agremiação, que se reúne todas as quintas-feiras, de modo itinerante. Nesta quinta-feira (28), abrigou o grupo o Bar e Restaurante O Rei do Guaiamum, que alegou a falta do seu prato-chefe, o próprio guaiamum, em calendário de defeso.

Tyrone Perrucho repassa as instruções ao novo filiado
O Clube dos Rolas Cansadas também recebeu a visita de Taiguara Perrucho, recém-chegado de São Paulo e curioso para conhecer o andamento e o cerimonial da entidade, com vistas a apresentá-los aos amigos na Pauliceia. No cardápio, além das tradicionais cervejas bem geladas, carne do sol frita e cabeça de robalo, para prestigiar um dos pratos mais tradicionais de Canavieiras.


sábado, 16 de fevereiro de 2019

LURDINHA ESTREIA ÓCULOS NOVOS NA CONFRARIA D’O BERIMBAU

Só mesmo grande audiência para que Lurdinha Fróes estrear seus óculos novos, com a graduação recomendada pelo oftalmologista Dácio Rolemberg e confeccionado especialmente pela Ótica São Raphael. E foi justamente o que aconteceu na reunião deste sábado (16), na Confraria d’O Berimbau, com todas as pompas e toque de sino, como bem manda o ritual.

Cercada por confrades e visitantes, Lurdinha recebe os óculos de grau das mãos do presidente da Confraria d’O Berimbau, José Gama (Zé do Gás), que representava o empresário do ramo ótico Júnior Trajano. No cerimonial de entrega, palmas, badaladas de sino e o coro “coloca os óculos”, desfizeram a timidez de Lurdinha, que o colocou para a sessão de fotos.

Como estava viajando para cumprir compromisso profissional, Júnior Trajano recomendou a Zé do Gás que, assim que os óculos fossem entregues deveriam ser colocados para a fase de adaptação. De óculos novos, Lurdinha não se fez de rogada e providenciou um espelho para dar o veredito sobre a aprovação do conjunto e comemorar o presente.

Quem é - Para os menos avisados, Lurdinha foi a primeira e única mulher a ser condecorada em 1996, na primeira versão do majestoso evento étilico-cultural Galeota de Ouro, promovido pela Confraria d’O Berimbau. O troféu Destaque Feminino foi criado especialmente para ela, presença constante na Confraria. Até hoje o confrade Edmundo Melo a chama carinhosamente de a Musa d’O Berimbau.

À época, A Confraria d’O Berimbau distinguia algumas personalidades do mundo boêmio no evento Galeota de Ouro com diversos troféus, a exemplo da categoria Feminina (extinta após a primeira edição), In memoriam, Casal Bebum, Boêmio Visitante, Homenagem Especial, Conjunto da Obra e Bebum do Ano (primeiríssimo lugar).

Até hoje vizinha da Confraria d’O Berimbau, Lurdinha é presença garantida nas reuniões de sábado da confraria, recebida com toque de sino e muita alegria pelos confrades. Na reunião do próximo sábado, o confrade e empresário Júnior Trajano é presença assegura, pois irá com dupla missão: cumprir as obrigações de confrade e fazer o reconhecimento dos óculos de Lurdinha.

sábado, 10 de março de 2018

CPI apura sumiço de badalo na Confraria d’O Berimbau


O sino se encontram com um badalo provisório
O Secretário Plenipotenciário Interino da Confraria d’O Berimbau, Gilbertão, decidiu, neste sábado (10-03), instalar uma CPI para apurar o sumiço do badalo do sino que anuncia e comemora a chegada dos confrades no estabelecimento. No próximo expediente (sábado 17), serão indicados os membros da CPI encarregados das investigações de um dos equipamentos mais importantes da Confraria.
De acordo com as primeiras sindicâncias, o badalo do festejado sino teria sido surrupiado por um dos confrades que não tem o toque do sino como uma maneira correta de receber os confrades. A comissão de sindicância anunciou que alguns confrades estão sob investigação, principalmente os que se enquadram na conduta de condição de “inimigos do sino”.
O sino da Confraria d’O Berimbau é uma peça de trabalho e de estimação, introduzido pelo fundador da entidade, Neném de Argemiro, como o procedimento mais adequado para anunciar aos presentes a chegada de novos confrades. Dentre os símbolos da Confraria d’O Berimbau, estão o sino, o trombone e a caneca de esmalte, na qual Neném de Argemiro sorvia preciosos goles das boas cachaças servidas com prodigalidade.
O próximo passo da comissão de investigação a ser indicada pelo Secretário Plenipotenciários Interino é ouvir os membros da comissão de sindicância e os frequentadores da Confraria no expediente no sábado em que foi notada a falta do badalo. Também serão ouvidos pessoas que trabalham na área, com a finalidade de saber quem estive no ambiente, mesmo fora do horário, e sorrateiramente, desviou o badalo.
Para que os confrades não ficassem sem ser anunciados na chegada à Confraria d’O Berimbau, o Secretário Plenipotenciário Interino, Gilbertão, autorizou a um dos confrades, João de Cesário, a providenciar um badalo provisório para o famoso sino. Agora, a Confraria vai publicar um edital, para que os artesãos canavieirenses que trabalhem com ferragens possam se candidatar a fabricar um badalo para o descomposto sino.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Coquinho de Quelé ainda é lembrado como uma das delícias de Canavieiras

 Por Walmir Rosário*
Tyrone Perrucho, Raimundo Tedesco, Tia Quelé,
Nelson Barbosa, Antônio Tolentino e Walmir Rosário
Uma unanimidade: assim era considerado o coquinho de Quelé, uma deliciosa mistura de cachaça com o coco, fabricado anos a fio na atual rua Dr. Edmundo Lopes de Castro, no bairro da Birindiba, em Canavieiras. E o delicioso produto etílico, àquela época, era consumido por pessoas das mais diversas faixas etárias – de mamando a caducando, como se diz –, bastando, para tanto, saborear um bom aperitivo.
Aos 89 anos, Dona Clemência Vieira Costa está aposentada deste afazer desde 2009, para desespero dos antigos e fiéis clientes, que relembram com água na boca as visitas ao Coquinho de Tia Quelé. Para uns, visita diária obrigatória – ao meio-dia para despertar o apetite, ou ao final da tarde para descansar de um dia estafante de trabalho e se encorajar para um banho frio –; semanais, às sextas-feiras, com a finalidade de abrir o fim de semana; e ainda tinha a turma do sábado ou do domingo.
Desculpas de biriteiros à parte, a fama do Coquinho de Quelé reunia representantes de todas as camadas sociais de Canavieiras por ser um local onde até os políticos adversários se encontravam e se comportavam com civilidade. Até mesmo os alunos do Ginásio Municipal Osmário Batista – uniformizados, inclusive – frequentemente pulavam o muro para beber um coquinho em Tia Quelé, como fazia o hoje bancário aposentado, Raimundo Antônio Tedesco, isso aos 15 anos de idade.
O coquinho com cachaça, uma iguaria etílica
Mais de 100 coquinhos eram produzidos mensalmente, sem contar as encomendas destinadas a parentes e amigos em Salvador, que recebiam os coquinhos para verdadeiros mimos para matar as saudades da terra natal. Além do coquinho, Tia Quelé também atendia aos mais diferentes paladares, oferecendo cachaça com folhas (folha podre, no ditado popular) e cerveja. Já os tira-gostos eram servidos por estabelecimentos vizinhos.
No Coquinho de Quelé também tinha a turma da saideira, que amarrava o jegue no balcão e só deixa a casa depois de pronto e acabado, embora para uma grande turma era o local do início dos “trabalhos”. Informa Tedesco, que o local era uma espécie de esquente para a turma ir à farra, após umas doses espertas do coquinho. “Dali cada um tomava o seu rumo”, conta Tedesco.
E Tia Quelé, que serviu e introduziu várias gerações ao mundo etílico e boêmio por várias décadas, finalmente aposentou e não deixou nenhum substituto à altura, como reclama um dos clientes mais assíduos, Nélson Barbosa (Nélson Amarelão). Essa também é a queixa dos canavieirenses que residem em outras cidades, que frequentemente visitam Tia Quelé em suas idas e vindas. Outro cliente com muitas encomendas era o ex-bancário Jaime Bandeira, para presentear os amigos em Salvador.
Até mesmo o bancário aposentado e ex-secretário municipal, Antônio Amorim Tolentino, hoje fora das lides etílicas, quando relembra o coquinho de Tia Quelé diz que vem a saliva na boca. Para ele, além da alta qualidade do produto, a casa de reunia a mais fina-flor da boemia, a exemplo de Arimar Chaves, Fred Érico Almeida, José Reis, Almir Melo, Tyrone Perrucho, Toninho Pereira Homem, Ériston Nascimento, dentre outros, que passavam os mais variados tema em revista.
Na opinião do jornalista Tyrone Perrucho, mesmo com todos o bares e botequins da cidade, a casa de Tia Quelé era uma parada obrigatória da boemia, lembrando a grande profusão desses estabelecimentos em Canavieiras. “De repente, ficamos órfãos com a aposentadoria de Tia Quelé. Ela representou para nós o mesmo que Caboclo Alencar, do ABC da Noite, simboliza para Itabuna”, retratou.
O bisneto de Quelé, Paulo Henrique, quer continuar a
tradição, produzindo coquinhos para os antigos clientes
Homenagem - Mas o sentimento de perda do Coquinho de Tia Quelé deixou nos nostálgicos clientes está perto de ser satisfeita e, quem sabe, neste Carnaval possam matar as saudades do coquinho, numa edição especial de homenagem, com 50 coquinhos. Mais ainda, outra edição do coquinho está prevista para o dia 5 de junho, data em que Tia Quelé completa 90 anos de idade. Quem promete essa festa toda é o seu bisneto Paulo Henrique.
A intenção da família é relembrar uma das grandes tradições de Canavieiras criadas por Tia Quelé e que faz parte da memória da cidade e das pessoas que aqui viveram e foram apreciadores da iguaria. A notícia das edições especiais já despertaram alguns dos clientes mais assíduos, que tentam se inscrever numa lista de pré-venda e participarem das homenagens.
Reconhecimento - Num expediente sabático na Confraria d’O Berimbau, entre as várias e simultâneas discussões, o Coquinho de Quelé foi apontado pelos confrades especialistas em assuntos etílicos como uma das maravilhas da vida boêmia de Canavieiras. Considerado um assunto dos mais relevantes, imediatamente foi programada uma visita de reconhecimento à Tia Quelé, com a formação de uma comissão de alto nível para a importante missão.
Nesta embaixada, participaram os jornalistas Tyrone Perrucho e Walmir Rosário, os bancários aposentados Raimundo Antônio Tedesco e Antônio Amorim Tolentino e o funcionário público aposentado Nélson Barbosa. O objetivo principal foi o de refrescar a memória das pessoas sobre uma pessoa que contribuiu para tornar Canavieiras uma cidade de cultura rica, notadamente na gastronomia e nas bebidas.

Tia Quelé, que criou e netos adotivos, se aposentou aos 81 anos e hoje vive com o bisneto Paulo Henrique. Atualmente tem dificuldades em reconhecer as pessoas, mas, com dificuldade, lembra de alguns fatos e amigos mais chegados, a exemplo de Raimundo Orelhinha e Wallace Mutti Perrucho. Apesar dessas condições não perde o bom humor, mesmo quando reclama de algumas dores ao ficar sentada ou em pé. Mesmo assim não se fez de rogada ao ser chamada a ir para a porta para pousar na fotografia com os antigos clientes.
*Radialista, jornalista e advogado

sábado, 13 de janeiro de 2018

E o pau de Bastião não subiu…

Walmir Rosário*

Castigo divino! Foi o sentimento e o desabafo de muita gente na noite desta fatídica quinta-feira, 11 de janeiro de 2018, na praça Coronel Armindo Castro, conhecida como a praça da Capelinha e palco anual da Festa de São Sebastião. Também não era pra menos! Pela primeira vez nesses mais de 150 anos, o Mastro de São Sebastião não erguido pelos “levadores”, responsáveis pelo transporte – nos ombros – do cais do porto até a praça, onde é erguido.
De minha parte vou logo avisando que não vi com esses olhos que a terra um dia já de comer, mas soube do acontecido por pessoas dos variados tipos, a grande maioria tida e havida como idôneas. E o fato era só um: Os levadores do pau de Bastião, homens fortes e experimentados no ofício, não conseguiram erguer o mastro, como fazem com toda a habilidade, por anos a fio.
Que eu lembre, só uma vez, acredito que em 2014, o pau de Bastião – como é carinhosamente chamado – quase não sobe. Mas não foi por falta de força e jeito como o de agora, mas por motivos políticos, perfeitamente sanados pelo organizador dos festejos, Trajano Barbosa, homem sério e respeitado por todos, que estão nesse ofício por mais de 60 anos e que ainda deve continuar per saecula saeculorum.
Tá aí o “Pau de Bastião estendido no chão
Confesso que a levada do Mastro de São Sebastião tinha tudo para ser um sucesso absoluto. O pau foi retirado e deixado na calçada da avenida General Pederneiras, junto ao cais do porto, conforme manda a tradição, sem tirar nem por. Também estavam presentes os nativos e turistas, por fim as autoridades, prontas para abrir o cortejo. E que cortejo: com a presença de gente ilustre, deputada estadual, vereadores, presidente da câmara, prefeito e tudo mais.
Na minha humilde visão, achei que iria bombar! Tinha ares de festa ecumênica, com a participação de protestantes. Uma glória! Afinal, a levada do pau de Bastião é uma festa democrática, que conta com os eventos profanos e religiosos, daí a importância da participação de todos os credos, inclusive os que não creem, sejam eles nomeados de ateus ou agnósticos. Inclusive anotei a presença de alguns deles.
Mas, a pergunta que não quer calar é: Por que o pau de Bastião não subiu? Castigo divino ou não, o certo é que, por mais força que fizessem não conseguiam fazer com que o mastro fosse colocado no buraco permanecer altivo e garboso até o dia 20 de janeiro, data em que é homenageado o Santo. Alguns mais afoitos chegavam a afirmar que teria sido uma vingança de Trajano Barbosa por ter sido criticado por ter escolhido um pau torto e pequeno, não condizente com as pompas da festa. Então teria indicado a derruba do dito eucalipto, grosso, alto e viçoso, bem verde e pesado.
Entre as duas questões levantadas, me inclinei mais pelo castigo divino, haja vista a bela história da devoção a São Sebastião nas terras canavieirenses. Tudo começou com uma promessa para livrar a família acometida pela lepra. Milagre feito, promessa paga com o corte e o erguimento do mastro, tradição que vem sendo perpetuada por esse sesquicentenário.
Como disse acima, eu não era testemunha ocular do fato, já que não fiz o percurso integral do cortejo, e do Bar do Erpídio, no porto, me arranchei com amigos no Bar do Renato, na rua 13, onde apreciei a passagem do pau de Bastião. Daí que, sabedor do fato, tratei de consultar livros históricos e o jornal Tabu, não encontrando fato igual que merecesse o registro, a não ser uma briga de facções políticas, em tempos pretéritos.
Feitas as consultas aos conhecedores da história e estórias de Canavieiras, Antônio Amorim Tolentino, Beto Pescoço de Galinha e Raimundo Tedesco, todos me afiançaram não ter registro de acontecimento igual. Só não deu tempo consultar o historiador Durval Filho, pelo adiantado da hora, por do sol de sexta-feira, já em seus compromissos religiosos, mas, também não encontrando nada nos seus trabalhos na internet.
Ainda com base na história e estórias, contam os mais antigos que, caso o pau de Bastião não seja erguido, a cidade e seus organizadores sofreriam punições severas. Entre os castigos estariam o insucesso na agricultura, com falta de chuvas e pragas biológicas, além de outros não revelados. Para se ver livre das punições divinas, a prefeitura tratou de contratar um caminhão guincho para erguer o pau de Bastião.
Enquanto isso não ocorria, os gaiatos faziam correr nas sete freguesias relatos de que o pau de Bastião estaria se filiando ao famoso Clube dos Rolas Cansadas, coisa de alguns velhos que não têm o que fazer. Desocupados, usam essa tal de agremiação para beber e contar lorotas como essa, a pretexto de buscar a proteção do lendário Santo. Te esconjuro, Satanás! Olha a maldição!


 Radialista, jornalista e advogado.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Clube dos Rolas Cansadas ganha sede oficial

Presentes na foto os membros Nelson Amarelão, Edmundo Melo, Walmir Rosário (observador), Gilbertão, Tyrone Perrucho, Bené (anfitrião), Batista e Seu Furico
Agora é pra valer! Finalmente, os intrépidos membros Clube dos Rolas Cansadas já tem onde se reunirem e o endereço oficial é o Bar do Bené, localizado na rua Barão de Cotegipe, um dos endereços mais qualificados para o grupo, no entender de um dos coordenadores, Tyrone Perrucho. A partir da próxima semana, o Clube passa a se reunir de forma ordinária.

Com a escolha da sede oficial, desde quinta-feira (30 de novembro) o Clube dos Rolas Cansadas deixa de ser um grupo errante, que se reunia de bar em bar, de acordo com os interesses dos membros e da boa vontade dos donos desses estabelecimentos. Agora, está consagrado e os distintos senhores de meia idade avançada já podem marcar as reuniões das quintas-feiras com a garantia de serem bem recebidos no ambiente.

Logo após a a garantia de “casa própria”, o coordenador da entidade, Tyrone Perrucho, manteve um encontro virtual por telefone com seu colega de Ilhéus, José Leite, informando-o sobre a sede própria. A partir de agora, a entidade deverá estreitar o relacionamento com os clubes coirmãos, a exemplo do Clube dos Rolas Murchas de Ilhéus, dirigido por José Leite.

Neste sábado (2 de dezembro), o Clube dos Rolas Murchas de Ilhéus apreciam, na sua reunião ordinária na Barrakitica, uma visita de cortesia ao clube coirmão de Canavieiras, cuja data será informada posteriormente. O Clube dos Rolas Cansadas já começaram o planejamento da visita ilustre dos colegas ilheenses, bem como também se organizam para empreender visitas às entidades congêneres das cidades circunvizinhas.

Quem também já garantiu presença na visita do Clube dos Rolas Murchas a Canavieiras foi um dos seus membros, Eduardo (Siri) Carvalho, que já residiu em Canavieiras e aproveitará para rever os amigos. Na próxima semana, um assunto estará em pauta: a aprovação de novos membros, que não participaram da primeira reunião na sede oficial com receio de sair na foto.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Chocolate é comida de boi

Walmir Rosário*
Calma, gente, isso acontece lá na Austrália, onde o chocolate serve como iguaria e tranquilizante para os animais da raçaWagyu (japonesa), que são transformados em kobe beef, uma das carnes mais saborosas do mundo. E como tudo tem seu preço, um quilo dessa carne é vendida em todo mundo pelo preço de arrobas que conseguimos vender por aqui.

Ao tomar conhecimento dessa notícia,pensei logo nos benefícios que poderiam trazer à cultura do cacau, com esse incentivo ao consumo do conhecido manjar dos deuses. Já imaginaram quanto embolsariam a mais os nossos produtores exportando mais cacau? Marketing a Canavieiras é o que não falta e teríamos como símbolo a fazenda Cubículo, primeira plantação de cacau da Bahia.

Mas ao relembrar as propostas de aumento da produção de cacau através da elevação do consumo, logo me aquietei pensando no histórico dessas tentativas anos a fio pelo antigo Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau (CCPC), que trocou o C de Consultivo pelo N de Nacional.

Ainda recordo das visitas de nossos conselheiros à China, que tinha como missão fazer com que apenas 10% dos chineses tomassem apenas uma pequena xícara diária de chocolate. Entre idas e vindas, a verdade é que se passeou muito e não conseguiram trocar o sagrado chá dos chineses pelo nosso cacau.

Uma lição caseira também me chama a atenção, que seria a introdução do chocolate na merenda escolar, com pioneiras tentativas, todas infrutíferas e de redundante fracasso. Não o porquê, mas a verdade é que essa ideia nunca foi transformada numa política pública, e não cabe a esse pobre escrevinhador pesquisar. É o papel dos cacauicultores.

Longe de mim afirmar – em alto e bom som – que a atitude do pecuarista australiano não irá produzir resultados positivos para o cacau. Também não vou sair por aí recomendando a introdução dessa nobre dieta aos pecuaristas brasileiros. Cabe-me apenas mostrar o que está sendo feito em terras distantes aos nossos patrícios. E vale a pena tomar conhecimento.

Antes de mais delongas, vale explicar que o kobe beef é considerada sinônimo de maciez, com gordura marmorizada e sabor inconfundível, que combina com o paladar dos consumidores que pagam em dólares e euros. Afinal, esses animais recebem um tratamento de luxo e carinho, sem falar da alimentação especial que recebem. Nada mais justo.

Tudo é uma questão de valor e disposição de pagar, como diriam os economistas para explicar a disposição desse seleto grupo de exigentes consumidores. De olho nessa demanda, o pecuarista Scott de Bruin, do Sul da Austrália, passou a investir na alimentação desses bovinos, oferecendo grãos especiais e frutas como maçãs.

Para agregar mais valor ao seu produto, Scott também passou a incluir o nosso chocolate na dieta do rebanho Wagyu, com a finalidade de aumentar as calorias consumidas. Com isso, conseguiu – segundo ele – a elevar o marmoreio da carne, tornando o kobe beef do seu rebanho ainda mais especial e de preço alto.

Acreditem que é a mais pura verdade. O pecuarista australiano consegue servir essa dieta composta por grãos, frutas e chocolate a todo o seu rebanho, formado por 7,5 mil cabeças, quando eles atingem os 30 meses. Ao sentir o cheiro do chocolate, as rezes se aproximam e comem à vontade (acredito que lambendo os beiços, como se diz popularmente).

Para o fazendeiro australiano, o consumo do chocolate faz com que o seu rebanho fique bem alimentado e mais feliz, transferindo esse bem-estar à qualidade e ao sabor da carne. A qualidade do tratamento a esses animais não se restringe ao chocolate e eles também ganham sessões de massagens, acupuntura, ouvem música clássica e dormem em tapetes térmicos, para que não sofram estresse. Um luxo!

Pelos meus parcos conhecimentos da pecuária, não sei se o chocolate é o elixir da felicidade para os nobres animais da raça Wagyu do Sul da Austrália, mas de cátedra, posso assegurar que no Brasil não merece confiança o chocolate por aqui consumido. Com raríssimas exceções, oriundas de fabricação caseira (artesanal) e pequenas fábricas.
Cada um tem o sonho de consumo que merece.
Radialista, jornalista e advogado


sexta-feira, 5 de maio de 2017

Bateau Mouche afunda na Confraria d’O Berimbau


A rabada de Niella foi o pièce de résistence
Deu chabu a iniciativa dos puxa-sacos de plantão em fazer mesuras de outros agrados a um dos confrades ausente por um breve período nas reuniões semanais da Confraria d’O Berimbau. Os bajuladores se mostravam preocupados com o período sabático concedido (a ele mesmo) ao confrade Tyrone Perrucho, para se livrar de um ligeiro incômodo gástrico intestinal.
Sem perda de tempo e antes do horário combinado, os aduladores começaram a aparecer com pratos e mais pratos de entrada e sobremesas, simplesmente para receber o confrade pródigo. Tal comportamento foi observado pela maioria dos confrades como puro puxa-saquismo, coisa somente permita aos conhecidos baba-ovo.
A subida admiração por Tyrone Perrucho, no entender de alguns confrades, como um ato rasteiro de traição aos princípios que regem os estatutos da Confraria d’O Berimbau, que define, antecipadamente, os confrades responsáveis pelo pratos do dia. Houve quem definisse como um desvio de comportamento, passível de punição.
Não menos notado nesses bajuladores foi a tentativa sorrateira de desmerecer a rabada do confrade Niella Costa, pièce de résistence oficial da ilustre reunião, conforme estipulada na agenda mensal. Não fosse a festejada e exaltada qualidade da rabada de Niella (crème de la crème, como diria o saudoso colunista Charles Henri) a reunião teria o aspecto de um simples e mixuruco cocktail.
Mocofato também foi apresentado
Mas como diria o mestre Ibrahim Sued, cavalo não desce escada, a mesquinharia deu com os burros n’água, sem a presença esperada de Tyrone Perrucho, impedido de promover o seu rentrée. Para o desgosto dos puxa-sacos, o novo debut ficou para a semana seguinte, realizada com toda a pompa desejada.
Para não desapontar o tour de Force dos bajuladores, os confrades presentes não se fizeram de rogados, e com destemor resolveram se submeter ao cansativo sacrifício de comer todo o buffet. Por decisão unânime, os pratos encavalados (os confrades não suportam o vocábulo “acavalados”) foram dizimados entre um gole e outro.
O afundamento de novos Bateau Mouche estão sendo aguardados ansiosamente nas futuras e produtivas reuniões da Confraria d’O Berimbau, em festas surpresas com a realizada para homenagear o confrade. Tout court, com diria os colunistas Charles Henri e Dikas Cezimbra em seus pujantes carnets sociais publicados nos jornais da região.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Confraria d’O Berimbau quer receber, em grande estilo, o professor Durval


Walmir Rosário*
Uma empreitada pra lá de especial. Para alguns, chega a ser considerado um grande desafio sem precedente na história da Confraria d’O Berimbau: fazer com que o professor Durval Pereira França Filho aceite o convite de visitar as instalações deste instituição que é considerada o mais fino reduto da boemia de boteco de Canavieiras.
A depender do ângulo analisado, nada de mais para um historiador renomado visitar para conhecer – in loco – o templo histórico de farras e festas homéricas de canavieirenses e visitantes não menos ilustres. Sem falar na figura ilustre do fundador e antigo proprietário, Neném de Argemiro, que na pia batismal adotou o nome de Eliezer Rodrigues, hoje representada por Zé do Gás.
Caso o desavisado leitor ainda não tomou conhecimento de tanta peroração, o ambiente não é daqueles em que o professor e bancário aposentado Durval França ponha seus pés, pelo menos por vontade própria. O laço que pode unir O Berimbau e o professor não são as mesas abastecidas com aperitivos da fina cana e garrafas de cerveja e sim o potencial histórico.
É que Neném de Argemiro – mais uma vez – foi reconhecido pelos seus feitos em prol da cultura de Canavieiras, incentivando o Carnaval da cidade com suas fantasias inéditas e inusitadas, desfilando nos blocos que ele mesmo e sua família criavam. Curriculum mais rico e consistente não haveria de aparecer, tanto que foi distinguido com tamanha honraria de ter sua memória reverenciada na Festa de Momo.
Ora, mas seria O Berimbau um antro de perversão, um valhacouto de vagabundos ou um antro de perversão, em que a simples presença do nosso festejado historiador tivesse sua honra maculada? Não chega bem a isso, mas para um cidadão que já passou dos 70 anos sem qualquer anotação de sua presença num ambiente onde as bebidas alcoólicas predominem na preferência dos seus frequentadores.
Pra começo de conversa, a Confraria D'O Berimbau é um estabelecimento sui generis que opera no ramo etílico com leve ampliação para eventual alimentação do seus membros, aos sábados, a partir das 9h51min até o último cliente. E é essa plêiade boêmia a responsável pelo sucesso dessa entidade etílico-cultural-recreativa, formada por intelectuais, profissionais liberais, funcionários públicos e privados de todas as classes econômicas, representando uma clientela heterogênea.
Mais do que provado está que além de probo e recatado, o professor Durval é um homem religioso e fiel seguidor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que abomina esses locais nem tão bem afamados. Para preservar o conceito e a moral do professor, de antemão os confrades explicam que a visita é estritamente profissional, sem qualquer finalidade gastronômica ou etílica, principalmente.
Essa afirmação dos confrades não garante, entretanto, a suspensão dos trabalhos d’O Berimbau, para que não se perca a originalidade do ambiente a ser pesquisado pelo historiador. As discussões serão mantidas, bem como todo o serviço de bar e o professor será recebido em alto estilo, ao badalar do sino, conforme manda a tradição.
Durante a reunião preparatória da visita um dos confrades se mostrou receoso diante de uma possível mudança de hábito do festejado mestre, que poderia aderir ao novo estilo de vida dos confrades, haja vista precedentes históricos. Chegou mesmo a lembrar a conduta de um professor, pastor de conceituada igreja protestante, que contagiado com a inauguração do sistema elétrico da cidade, mandou “fechar” geladeira, freezeres e litros da mais legítima cachaça de folha e batidas, para a comemoração entre amigos.
Beirando a maledicência, outro confrade chegou a jurar o recato do professor, embora alguns elementos conhecidos pela má língua comentassem a boca pequena, que no recôndito do seu lar, o professor provasse um bom whisky, desde que provada sua legítima procedência escocesa. Mesmo sem provas materiais, a justificativa é que todos os colegas do Banco do Brasil vendiam os litros recebidos na cesta de natal. “Até hoje não temos nenhuma notícia da comercialização dos presentes recebido pelo professor Durval”, sustentou o ex-colega.
Para corroborar a desconfiança – que se tornava uma quase verdade –, um outro indício foi tornado público. Este se passara na defesa da dissertação de mestrado do professor, quando um dos membros da comissão julgadora, o professor doutor Jorge Araujo fez questão de anunciar em alto e bom aos presentes ser o candidato a mestre seu parceiro de copo e colega de mesa de bar nos tempos da juventude, para surpresa de amigos e familiares. Nada mais disse nem lhe foi perguntado, como costumam anotar os escrivães em inquéritos e processo.
A essa altura do campeonato, o professor Durval já era tido e havido como um bem provável futuro colega – quiçá confrade – após a primeira visita de trabalho. Afinal, que local mais apropriado que a Confraria d’O Berimbau para acolher, refugiar e abrigar figura tão ilustre? Ainda mais por se tratar de uma pesquisa histórica a ser transformada em livro para dar ciência dos fatos à posterioridade.
Pelo sim, pelo não, durante a entrega do convite formal ao historiador, os confrades farão questão de informar que O Berimbau é um porto seguro para reunir – generosamente – parcela tão ilustre da boemia canavieirense. E no reforço ao convite constava tão brilhante metáfora: Se os melhores perfumes estão contidos nos menores frascos e as mais belas e cheirosas flores nascem no lodo, a Confraria d’O Berimbau reúne o que existe de melhor na arte, refinamento e sofisticação etílica.
Se crucificaram até Jesus Cristo, o que não farão esses fariseus com um apóstolo Dele...
Um grande impasse é que a Confraria d'O Berimbau só funciona aos sábados, dia de guarda do professor Durval. Uma parte terá de ceder...
* Um dos confrades

sábado, 27 de agosto de 2016


NIELA COMEMORA ANIVERSÁRIO EM O BERIMBAU; SÓ ALBERTO FISCAL NÃO GOSTOU DA RABADA


Panelão de rabada do aniversário de Niela
Em alto estilo foi comemorado, neste sábado (27), o aniversário de Carlos Antônio Niela na Confraria de O Berimbau. Afinal, não é todo o mundo que têm a felicidade de atravessar a casa dos 79 anos com todo o gás, comendo uma suculenta rabada com legumes, acompanhada de de boas cachaças e cervejas bem gelada.
O niver, planejado com dois meses de antecedência, consumiu dedicação de Zé do Gás para preparar toda a decoração do ambiente e a confecção do bolo, para as comemorações. Por isso, nada foi esquecido e o ágape ocorreu em pleno clima de felicidade, para o gáudio e satisfação dos confrades.

Conforme prometido, o prato de resistência foi a rabada com legumes, que chegou com um pequeno atraso, já que o aniversariante não aceitou o apoio de Nélson Barbosa na logística do transporte da rabada até O Berimbau. Fez bem, pois a segurança de uma iguaria desse naipe não pode ser descuidada. A única ausência notada foi a de Alberto Fiscal, qu
Niela corta o bolo com a vela a meio pau
 preferiu passar o dia no interior de Camacã, veraneando na pousada do seu irmão Boca de Twitter, como é mais conhecido. Pelo que ficou evidenciado nas conversas entre os confrades, o único que não gosta da rabada de Niela é Alberto Fiscal, por motivos desconhecidos. 
Agraciado pela Confraria de O Berimbau com um bolo com uma velinha a meio pau, Niela cumpriu todo o ritual a ser seguindo pelos aniversariantes, ao cuspir no bolo enquanto tentava apagar a velinha. 
Ao final, com todas as gafes cometidas e aqui não reveladas, fica apenas o registro de que o bolo foi decorado com um guaiamum, coisas que somente os confeiteiros, como Zé do Gás pode revelar.
Bolo decorado com guaiamum
O detalhe especial ficou por conta do confrade Raimundo Antônio Tedesco, que "amuou" na mesa onde ficou localizado o prato principal - a rabada - até que não restou nem um ossinho. Ao final, a título de sobremesa, foram servidos pães de sal recém-saídos do forno, para serem comidos com o caldo gorduroso da rabada.
E todos continuaram felizes para sempre.
Tedesco "amuou" na panela de rabada

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Ágape de sustança na reinauguração d' O Berimbau

Buchada de bode, prato de sustança
E a Confraria d'O Berimbau se renova e inaugura neste sábado novas instalações. Nem todos os confrades aprovaram as mudanças introduzidas por Zé do Gás, principalmente os mais conservadores. Faz tempos que desconfiavam da "maldade" e o crime ecológico cometido contra o pé de abil, derrubado sem dó nem piedade.
E é justamente naquele local que está localizada as novas instalações da modalidade etílica d'O Berimbau, que vem perdendo espaço e localização para a padaria do mesmo nome. Celeumas à parte, o espaço está construído, pronto e acabado, portanto, não será com choro nem vela que irá resolver o problema. a mudança foi decidida democraticamente por Zé do Gás, do alto do seu coturno de diretor-presidente da Confraria.
Dentre as lamentações dos confrades, estão a importância dada a uma padaria, coisa de somenos importância, onde os clientes não fazem "piseiro" e apenas aparecem para comprar pão e outros assessórios, e até a "casa da lenha", depósito despropositado em local privilegiado. Mas está lá e não adianta chorar o leite derramado.
Já outros confrades até gostaram do novo local, a que acreditam apropriado para as reuniões sabática (por ser periódica, aos sábados), com o toque do sino à chegada dos confrades. Para esses, não é preciso estar exposto nas vitrines para praticar o esporte etílico e gastronômico entremeado de bate-papo, pois cachaceiro que se preza não faz fuxico ou fofoca.
E neste sábado, nada mais justo para justificar (isso mesmo) o tresloucado gesto de Zé do Gás do que ser servido com o que existe de mais gostoso da cozinha nordestina. Pelo que soube, buchada de bode, rabada, sarapatel e sobe e desce serão as especialidades da casa servidas por ocasião de tão nobre recepção aos confrades d'O Berimbau.

Folhas de jamaica pelo serviço expresso


Walmir Rosário*
Dias desses, por ocasião de uma das reuniões de sábado da Confraria do Berimbau, falei sobre a dificuldade de bebermos, em Canavieiras, uma boa cachaça de folha, da música “Tarde em Itapuã”, do poeta Vinícius de Moraes, que troquei para “cachaça de folha”. Nunca achamos as folhas boas que queremos ou uma cachaça destilada que se preze pela qualidade.
As duas juntas e engarrafadas que temos notícia não merece tanta confiança e credibilidade. Nada contra as folhagens (que geralmente se prestam para a mistura), mas o problema reside na qualidade da cachaça, nem sempre muito confiável por essas paragens. E a cachaça de folha tem que ser um “casamento perfeito”: boas folhas, ótima destilada.
Na minha reserva especial de cachaça sempre há espaço para as destiladas – descansadas ou não – de boa procedência. Sempre sentenciei como crime inafiançável misturar uma boa destilada com elementos estranhos, como o limão, que, comprovadamente, tem causado males diversos aos intestinos e estômagos mais delicados.
Mas sempre abri exceção para a mistura com as folhagens diversas, desde que não sejam amargas, a exemplo de “pau-de-rato”, “Milome”, “carqueja”, “boldo”, dentre outras. Não coloco o “jiló” no mesmo balaio, pois as histórias sobre essa mistura já causou alguns dissabores na masculinidade de alguns desavisados no bairro da Conceição, em Itabuna.
Já outras folhagens, do tipo mais amigável ao paladar, são sempre bem-vindas. A começar pela “catuaba”, “angico”, “jatobá”, cravo, canela, “angélica”, “alecrim”, “figo”, “gengibre” e até mesmo tempero pra peixe, uma mistura rica em alho, cebola em cabeça e verde, tomate, hortelã, pimentão e por aí a fora.
Em Itabuna, essas preciosidades sempre foram encontradas nas boas casas do ramo, aquelas não não economizam dois reais na hora de adquirir uma boa destilada para servir à seleta clientela. Exemplos que merecem ser lembrados são as “farmácias” de Dortas, na esquina do beco do Fuxico com o Calçadão da Ruy Barbosa, de Batutinha, no Médio Beco do Fuxico, e até de Ithiel Xavier, no início do bar no Alto Beco do Fuxico e que serviu de inspiração para a Confraria do mesmo nome.
Ainda no Alto Beco, na esquina da travessa Ithiel Xavier com a rua Duque de Caxias, estava implantada a mercearia de Alcides Rodrigues Roma, ponto de apoio da boemia frequentadora daquelas paragens. Ao lado dos sacos de milho e feijão, um cavalete com carne do sol e jabá (ambas com dois vistosos pelos), preferida para o tira-gosto entre uma cachacinha e outra.
Aliás, é bom que se diga que a especialidade da casa, era a “angélica”, considerada pelos consumidores a bebida sublime, a preferida dos clientes. E nada melhor do que uma jabá assada como prato de resistência. E não era preciso nenhum chef em culinária para prepará-la ao gostos dos fregueses.
Bastava apenas envolvê-la num papel pardo de embrulho, ensopar o pacote com bastante álcool 90 graus, colocá-lo no prato da balança e riscar o fósforo. Após o fogo apagado, desembrulhar a carne, bater com a faca na carne para tirar o excesso de sal e cortá-la em pequenas fatias. Pronto, com uma iguaria dessa qualidade não ficava ninguém com fome.
Num desses domingos em que todos se preparavam para ir ao futebol no Itabunão – era dia de Itabuna e Vasco da Gama –, eis que aparece uma visita ilustre na mercearia de Alcides Rodrigues Roma, tendo como anfitrião Paulo Fernando Nunes da Cruz, o Polenga. Era o então presidente vascaíno Eurico Miranda, que diante da fama da angélica e da jabá, desprezou o almoço do Pálace para experimentar o inusitado prato.
Mas preciso retomar o fio da meada, para não embaralhar a cabeça dos leitores com tantas informações, às vezes desencontradas e que podem levar ao coma alcoólico. Ante ao meu questionamento, de pronto, um amigo resolveu atender, em parte, minha solicitação, dizendo conhecer um pé de pimenta jamaica inexplorado, mantido por ele longe dos olhares de cachaceiros.
O receio de Antônio Alves (Tonhão, ou Tonhe Elefoa), técnico agrícola aposentado da Ceplac, é que a árvore venha a ser alvo dos consumidores de cachaça com folha e venham a desfolhá-la. Garantiu que supriria as minhas necessidades, colhendo algumas folhas, que seriam entregues em data próxima.
Nem bem passou uma semana e ao chegar em casa e vasculhar a caixa de correspondência para conferir a entrega dos Correios, me deparo com o compartimento cheio de folhas. Fiquei pasmo e pensei que seria um novo serviço dos Correios para tapar o rombo nas suas contas, mas abandonei a ideia por achar estapafúrdia.
Em seguida, meu pensamento voltou-se para as crianças vizinhas que brincam na rua tocando as campainhas e se escondendo que tinham feito mais uma travessura. Ao chegar mais perto para retirar as folhas, reconheci o cheiro das folhas de pimenta jamaica e fui me lembrar da promessa feita por Tonhão na Confraria do Berimbau.
Olhei para as folhas e já vislumbrei elas dentro de um litro misturadas com uma boa destilada – ainda não repousada – trazida do Bar do Jacaré, em Itajuípe, pelo amigo Cláudio da Luz. Um casamento perfeito, digno de saboreá-las ouvindo a música Tarde em Itapuã, tendo o cuidado de trocar as palavras cachaça de rolha por cachaça de folha.
* Apreciador das boas bebidas


segunda-feira, 9 de maio de 2016

VERSOS DE ANTANHO SOBRE O VINHO


Tu, que não bebes vinho,

não maldigas os que bebem.
Sê cortes,
sê indulgente,
sê humano!


Fôra eu senhor do Destino,
dono do passado e do futuro,
ter-me-ia então arrependido
e confessado a Allah
os meus pecados.


Mostras-te orgulhoso,
envaideces-te de não beber.


Insolente e hipócrita!
Fingiste relegar ao esquecimento
centenas de atos perversos,
e encobres as afrontas ao pudor
que diariamente praticas!

*Osmar Khaiame
 (séc. XI)


sábado, 12 de dezembro de 2015

TRABALHOS PARA 1ª LAVAGEM DO BECO DO BERIMBAU COMEÇARAM CEDO

Antônio Elefôa abre os trabalhos
Às 5 horas, precisamente, uma alvorada com fogos de artifício abriu as comemorações para a 1ª Lavagem do Beco d'O Berimbau, em Canavieiras. Em seguida, com a chegadas dos primeiros confrades, foi servido um lauto mocofato e colocado à disposição um balcão com vários tipos de cachaça e batidas. Os frezzers com cerveja já estavam estrategicamente colocados.

O primeiro a abrir os trabalhos foi o confrade Antônio Elefôa, que
Um mocofato de respeito
degustou uma moqueca na frasqueira, bem forte, arrematada com o mocofato.

Logo mais os trabalhos serão oficialmente abertos...









Os "cederos" partiram pra "briga"